As Três Sozinhas / Anabela Almeida / Cláudia Gaiolas / 2019
Lisboa, 1 de janeiro de 2019
Minhas queridas,
Vi um homem passar numa bicicleta como se o mundo estivesse a ruir atrás de si. Quem empurrava a bicicleta era uma mulher. Contava-vos isto e poderia até ser verdade, mas também seria insuficiente para ilustrar esta problemática que enforma o mundo. O mundo está sempre a ruir, os homens pedalam, as mulheres empurram. E não é bem assim.
É um fio fino, podia dizer-se o fio finíssimo de uma faca de cozinha, o que procura distinguir homens e mulheres. Vem procurando, desde há séculos, cortar-nos em duas metades que milagrosamente nos farão encaixar. Escapa-lhes o erro de uma faca. Não há nada a cortar ou a desenhar em forma firme, só que disso fizeram que, arrisco, desperdiçamos (demasiado? tanto?) tempo a procurar peças dentro de nós e no outro. Aqui falo de amor, que é onde geralmente tudo isto se agudiza, mas também falo de nós com nós, a mais prolongada e segura solidão.
P.S. – As Três Sozinhas debruça-se sobre a subjectividade individual com suas anedotas, manias e implicâncias, para reflectir sobre corpos disciplinados e corpos transgressores. Corpos de mulheres, com especificidades, desejos e mistérios que ultrapassam as disciplinas do poder. É um espectáculo de vingança? Às vezes. Podemos ver as bruxas de Macbeth atravessando os séculos, cansadas da fogueira e do extermínio, envolvidas em movimentos, as Suffragettes, as ondas feministas, as bandas punks, gritando discursos indisciplinados, rebeldes e implacáveis, conversando com Rosa Parks ou Carolina Beatriz Ângelo, Princesa Diana ou Lorena Bobbitt.
EQUIPA ARTÍSTICA
Direcção artística e interpretação – Anabela Almeida, Cláudia Gaiolas, Sílvia Filipe
Apoio à pesquisa – Judite Canha Fernandes
Apoio dramatúrgico – Alex Cassal
Desenho de luz – Daniel Worm d’Assumpção
Figurinos – José António Tenente
Sonoplastia – Teresa Gentil
CO-PRODUÇÃO
teatro meia volta e depois à esquerda quando eu disser, Teatro Nacional D. Maria II
RESIDÊNCIAS DE CRIAÇÃO
O Espaço do Tempo (Montemor-o-Novo)
ESTREIA
Julho de 2019, Teatro Nacional D. Maria II, Lisboa